Daniel Mattos – Capítulo 5 – O ponto de onde não há volta

014 abriu porta do quarto e desceu para o restaurante. Lá estava o seu homem. O sujeito estava comprando refrigerante. “Hora de mostrar serviço” Daniel pensou.

Andando normalmente, 014 tirou uma moeda do bolso do jeans, se aproximou da máquina de refrigerante onde o sujeito estava comprando o seu. Chegou bem perto do homem e deixou cair a moeda perto do pé do cara. Abaixou-se para pegar e, quando se levantou, esbarrou-se de propósito no homem, fazendo-o cambalear:

“Desculpe, moço.”

“Hunf...” - o sujeito resmungou.

O homem se abaixou para pegar a chave que tinha caído da sua mão. Era o que 014 esperava. Abaixou-se rapidamente e antes pegou a chave do cara. Antes de entregá-la, ainda consegiu observar: “Apto. 12”.

Pediu desculpas mais uma vez e andou apressadamente para o corredor. Assim que se viu sozinho, correu para o quarto do Rubens. Deu três batidas rápidas e uma espaçada. Rubens abriu:

“O que manda?”

“O cara está com o quarto ao lado do meu.”

“Como você sabe?”

“Ué! O meu é o 11, e o dele o 12.”

“Como você descobriu? Não andou fazendo perguntas, né?”

“Sossegue. Bem, era só isso. Bye.”

Deixando Rubens com uma cara de quem comeu e não gostou, Daniel saiu para a recepção, com um belo de um sorriso.

“Por favor...” - 014 chamou o rapaz da recepção - “O quarto 12 não está vazio? É que o meu professor queria um perto do meu. Preocupado com a competição, sabe como é...”

“Sinto muito, garoto, mas acabei de locar esse quarto.”

“Quem pegou não estaria interessado em trocar com o Rubens? Quem é? Talvez se eu falasse com ele...”

“Não sei não. É Carlos o nome do homem. Mas duvido que você consiga alguma coisa.”

“Vou tentar. Valeu.”

Deixando uma pequena gorjeta com o balconista, Daniel seguiu para seu quarto.

Pegou uma bolsa, colocou nela uma toalha, óculos e touca de natação e seguiu para o quarto do Rubens. Já estava quase na porta quando ela se abriu e o cara saiu. Um alerta tocou no cérebro de Daniel, que achou que o melhor a fazer seria continuar. Entrou pela porta antes do cara fechar, e fechou-a por dentro. Rubens não estava na saleta da recepção. 014 largou a bolsa no sofá ao lado da porta e entrou para o quarto.

“Qual é o galho?” - já entrou bronqueando com Rubens, que estava digitando em um laptop na cama.

“Eu é que pergunto. Descobriu alguma coisa?” - disse já fechando o computador.

“Relatório?”

“Ah, não, não.”

“É. Porque se fosse iria colocar que estava conversando com o Carlos, agente Rubens?”

“Já sabe o nome do cara?”

“Ciúmes?”

“Pô, 014.”

“Por falar em 014, posso saber qual é o seu número, agente?”

“0...023...Por quê?”

“O número completo, agente!”

“Que é isso, Daniel?” - Rubens se levantou.

014 deu um passo atràs e assumiu a posição de Kung-Fu.

“Calma! Vamos conversar...”

014 olhava nos olhos de Rubens. Não falou nada.

“O quê exatamente você quer saber, Daniel?”

“Me passe o laptop!”

“Para?”

“O laptop, Rubens!”

“Olhe aqui, 014, eu sou mais velho e tenho mais tempo de serviço que você...”

“Só que não é na Abin.”

“Daniel...”

“Não precisa ameaçar, eu sei os riscos que corro...e os que você corre!”

“O que quer dizer?”

“Ora, eles não perdoam fracassos, não é mesmo?”

Rubens lançou o laptop com força na cama e se atirou em Daniel.

“Calma, Rubens.” - Daniel se desviou do golpe - “Você ainda pode ajudar e eu não falo nada pra eles.”

“Você, garoto! Você chegou em um ponto de onde não há volta!”


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