Hi, my name's is Mouche Maker, my profission is writer.

Justificativa

Agradeço aos leitores pela audiência e pela paciência de esperar por uma nova postagem. Domingo podem aguardar.
Obrigado.
- Professora Fabiana; meus agradecimentos pela contribuição em redação -

Daniel Mattos Capítulo 11 – Informação precisa.

Dobrando o corredor principal, 014 chegou pé ante pé até a sala em que estivera conversando com o comandante.

Na sala, só um abajur espalhava sua pálida e fantasmagórica luz. Iluminado pela claridade, um homem sentado em um sofá olhava a porta.

014 deitou-se no chão e, se arrastando apoiado nos ante-braços, se aproximou do sofá por trás, onde tinha uma janela aberta. Com cuidado, sentou no chão atrás do sofá e, devagar se levantou. O homem continuava de olhos fixos na porta à sua frente. Passou uma perna após a outra pelo parapeito da janela e se deixou escorregar para o outro lado, sem se fazer notar.

Já do lado de fora da casa, 014 deu um olhda ao redor: as árvores estavam espalhadas, não davam um bom esconderijo. Ao longe se via as luzes do barracão onde os peões festavam até alta madrugada.

Se movimentou furtivamente até as árvores mais próximas e perscrutou em volta e, como estava tudo na santa paz, seguiu direto para as luzes do barracão.

Chegando perto do barracão já se ouvia o “rap” em seu interior. Encostou na parede do fundos da construção e deu mais uma boa olhada em volta: dalí se avistava o estábulo onde Dark Storm estava. Construiu um mapa na cabeça; se precisasse fugir teria que ir até o estábulo.

Ajeitou a jaqueta negra, passou as mãos pelo cabelo despentedo e seguiu para a janela mais próxima. Era um ponto privilegiado: dalí se avistava toda a área da constução. Seguiu com o olhar as mesas aonde eram servidas garrafas de cerveja enquanto os peões comentavam o seu dia.

Rodeou o barracão e discretamente entrou pela porta da frente. Ninguém prestava atenção nele, cada um cuidava de sí.

Tinha aversão por cerveja, mas pegou uma lata de cima do balcão e abriu, serviria para melhorar o disfarce.

A princípio apenas circulou pelas mesas, tentando captar alguma coisa, mas, parou quando ouviu uma frase que o deixou interessado:

“Eles virão amanhã, Nivaldo.” - dizia um peão.

“Bom, aí a nós vamos poder tirar nossas merecidas férias.”

De posse da informação, 014 saiu discretamente do barracão reciocinando: “Um grupo novo de peões, hem? Ótimo pra mim. Uma oportunidade e tanto.”



Daniel Mattos – Capítulo 10 – A fazenda:

18:40, Daniel seguia com Dark Storm reto para o topo do morro, que tinha vegetação serrada.

Apreensivo, 014 fazia o animal andar a passo, sempre atento com as laterais e o mato em frente. Segundo o que tinha estudado, à entrada da mata estaria o primeiro vigia, ao qual deveria passar a senha.

Agora a mata começava, já bem cerrada. Redobrou a atenção.

“Alto!” - uma voz em tom forte e decisivo chamou a atenção de 014. Parou o cavalo.

“Vire-se devagar.” - Daniel obedeceu.

“Que faz aqui?”

“Tenho permissão, venho de Verssalhes.” - era a senha.

“Tranquilo garoto. Novo no negócio?”

“É.”

“Venha, o comandante vai querer conhecer você.”

014 seguiu o homem pela direção que ele apontou.

Andaram reto até uma triha da mata, bem disfarçada pela vegetação. Ali, o homem deu um assovio curto e forte. Um cavalo negro não demorou a aparecer.

“Não é tão forte quanto o seu, mas dá pro gasto.” - o sujeito comentou.

Cavalgaram por um tempo seguindo sempre na trilha estreita mas bem batida que cortava a mata de fora-a-fora.

Depois de aproximadamente 20 minutos de marcha, a trilha se alargou e cedeu lugar a uma clareira bem no topo do morro. Daquele lugar se tinha uma vista espetacular: a floresta descia a encosta do outro lado e via-se a entrada de uma fazenda.

“Está vendo aquela porteira?”

“Hum, hum.”

“É lá que começa oficialmente o limite da fazenda. Apartir daquele ponto você vai seguir com o capataz. O nome do cara é Junior, e não é muito chegado em papo. Tipo caladão, mas eficiente.”

“Vocês tem um exército operando aqui!”

“E você ainda não viu nada. Tem uns vinte peões prá lá dos limites da fazenda. De peão é só nome. Os caras sabem até artes marciais. O comandante tem mais um exército particular de 10 caras com armas de fogo.”

Percebendo que se aproximavam da porteira descrevida pelo cara, 014 deu corda pra ver se conseguia mais alguma coisa do homem:

“Escuta, vocês não tem medo de fiscalização não?”

“Que é isso? O comandante dá o toque de alerta com o sino da casa grande quando essa escória vem pra cá e os peões ficam de sobreaviso. Ninguém se mostra.”

“Mas a fazenda não é pequena?”

“Aí é que está o negócio. A fazenda é pequena aqui, mas lá pelas bandas de Cianorte o comandante tem uma enorme, com 'laranja'.”

“Vocês só conhecem o comandante por esse nome?”

“Só. Ele usou um nome falso para contrato. Bem, vou ter que voltar para a sentinela. Boa sorte garoto.”

“Por quê?”

“Você vai precisar para o comandante não fazer você comprar o estoque todo dele. Rá rá rá rá!”

“Tá... falou.”

“Falou.”

“Estoque, hem?” - Daniel resmungou baixinho.

Tocou o cavalo em frente na direção da porteira, onde um homem já sinalizava para ele.

Foi recebido por ele e levado até a chamada “casa grande”.

Uma construção extensa, de material e com estilo das casas típicas de fazenda, com um alpendre grande de madeira rodeando a casa toda. Amarelo fosco, as paredes não refletiam a luminosidade, sendo bem discreta.

“Pode entrar que vão te receber.” - o sujeito falou num moxuxo e se retirou.

Por dentro, a casa tinha o mesmo aspécto sóbrio e discreto, tudo bem asseado. Assim que entrou, Daniel obsevou um homem de meia-idade que olhava para ele, sentado na mesa de madeira redonda, colocada no centro da sala. Se dirigiu a ele:

“Oi.”

“Fala, 'fera', você é o Daniel?”

“Eu mesmo.”

“Senta aí, não mordo quando tô sem fome. Rá rá rá!”

014 deu um sorriso meio sem graça e se sentou na frente do sugeito, que tinha um aspécto de cobra, e ainda falava meio chiado.

As “negociações” se estenderam até altas horas da noite, com o cara só falando do “material”.

Depois de 23:30 mais ou menos, o cara liberou Daniel para dormir. Ele iria dormir na casa grande mesmo.

Daniel foi conduzido por uma sequência de corredores até ao quarto que iria ocupar, que ficava na parte dos fundos da construção.

“Aqui hóspedes não ficam acordados depois da meia-noite, colega.” - alertou o “peão” que tinha acompanhado Daniel até o quarto.

Assim que o homem fechou a porta, um discreto e quase imperceptível “clik” fez-se ouvir.

014 se jogou na cama, imaginando o próximo passo.

Abriu a mochila e, como imaginava, ela tinha sido revirada, mas como ele estava “limpo”, como os agentes diziam, nada de mais em dar uma olhadela.

Mas alguns truques sempre prevalecem. Sorrindo retirou o pequeno chaveiro metálico do zíper. Era um chaveiro normal, uma miniatura em escala de uma baioneta. O que os caras não podiam imaginar era que a baioneta tinha fio de verdade.

Foi até a suíte do quarto e lavou o rosto. Não estava com sono mas era bom prevenir. Pegou o aparelho Gillette que estava no armário, retirou as lâminas e as encaixou ao redor do mostrador do relógio de pulso. Depois escorregou o relógio para os dedos e fechou a mão; um sôco-inglês improvisado mas eficiente.

Voltou ao quarto, abriu a mochila e retirou a grana toda. Depois remexeu na cama, ajeitou a mochila no travesseiro e puxou os lençóis; não estava perfeito, mas com a luz apagada dava uma boa enganada.

Conferiu em todo o quarto: sem câmeras e, ao que parecia, sem escuta.

014 estava pronto. Apertou os cordões dos tênis, ajeitou o relógio no pulso, pôs a baioneta no bôlso, soltou uma longa respiração e foi até a janela.

Experimentou o vidro; aberto. Levantou-o e conferiu o folhão; fechado. E ainda com grades por tráz. Por alí não dava, teria que se arriscar pela porta. Foi até ela, e rodou a maçaneta só para tirar da duvida; trancada. Colou o ouvido na madeira; nada. Encaixou o chaveiro na fechadura, que por sorte era daquela antiquadas sem tambor e girou: “tlec!” e só; abriu.

014 esperou um tempo por precaução e abriu a porta devagar. O corredou estava um breu. Passou para ele e tornou a trancar a porta. Como não tinha o que explicar se alguém o surpreendesse, 014 deixou o relógio-soco-inglês na posição de usá-lo.

Daniel Mattos – Capítulo 9 – Tempestade Negra

6 horas da tarde. Um Porche Cayene preto arrancava na avenida Colombo em direção oeste. Dentro estavam 3 ocupantes: o motorista, Samuel, 045 na Abin e treinado em artes marciais e tiro ao alvo (especialmente em movimento); o próprio F., que decidira acompanhar a empresa e Daniel, 014, o principal personagem da trama toda. Fora do Cayene, ia a reboque uma carreta de animais, com um puro-sangue negro, a quem 014 chamou “Dark Storm”, ou “Tempestade Negra”.

Além da velocidade permitida, o Porche ia em direção a Cianorte.

10 minutos já se passaram e o carro engole a pista, sempre em frente.

“Cianorte?” - 014 perguntou não se dirigindo a nenhum dos dois em específico.

“Conhece o caminho?” - F. respondeu com outra pergunta.

“Dá pra chegar antes das 7. O carro rende bem.” - 045 entrou na converssa.

Depois, silêncio.

A estrada passava em borrão pela janela do Cayene; uma mancha disforme era o asfalto. A esquerda as elevações do campo, com grupos de árvores esparsos dava um cenário cinematográfico.

Por um bom período Daniel se desligou da operação. As planícies da direita lembravam a ele um pouco de Foz.

Escurecia. Eram aproximadamente 6:30 quando o Cayene encostou bruscamente a direita. Naquele ponto da estrada os cenários invertiam, com as planícies à esquerda e morros até consideráveis à direita. Foi perto de um desses moros cobertos de vegetação que o Porche parou.

014 sabia ter chego a sua hora. Engoliu a saliva e olhou para tráz. Na carreta, Dark Storm relinchou. Parecia encorajá-lo. Olhou para F.: a mesma cara de encorajamento e sensação de piedade. Olhou para o motorista:

“Em frente, rapaz!”

Desceu. F. e Samuel foram abrir a carreta.

“Gente.” - 014 sentia um icebeg na espinha.

“Hum?” - F. tinha uma expressão sinistra no rosto.

“Eu só sei o básico de equitação. Como vou dominar esse monstro?”

“Não esquenta, 014, Tempestade Negra é treinado pela Abin. Só o jeitão é de selvagem.”

“Recapitulando...”

“Olha, você devia ter estudado o seu papel. Agora é tocar pra frente que você tem que estar na fazenda até 7 horas.”

“Tá...”

Daniel montou no cavalo com a sensação de estar montado em uma tempestade real. Puxou as rédeas: o animal atendeu na hora. Sim, Dark Storm era treinado. Colocou a mochila preta nas costas. Com a jaqueta escura e calça jeans de um azul das profundezas abissais, estava bem pouco visível para olhos humanos.

Aprumou-se na sela; os cabelos negros levantavam um pouco com a brisa noturna, entrando em harmonia com a crina do belo animal. Os ombros largos sustentavam uma cabeça decidida, que tinha o olhar em frente. Deu um leve puxão na rédea, e Dark Storm começou a marchar.

“Daniel!” - 014 sofreou o cavalo bruscamente; era a primeira vez que F o chamava pelo nome. Olhou para ele.

“Você ainda pode voltar.”

“Não quero voltar.”

“Pode ser a última vez que o vemos, como a seu avô.”

“Então tá. Adeus pela última vez, F.”

“Confiante?”

“O bastante. Adeus!” - e ao seu comando, Dark Storm galopou em direção à leve colina a beira da estrada.

Do sopé da colina olhou para trás: um Cayene preto virava e arrancava silenciosamente em direção à Maringá. Melancolia. Essa palavra descrevia tudo.


Daniel Mattos – Capítulo 8 – Ernesto:

Um Vectra preto estacionou diante do hotel King Palace. F. em pessoa saiu do lado do carona e se dirigiu à recepção do hotel.

“Bom dia.”

“Bom dia.” - o recepcionista retribuiu - “Deseja quartos?”

“Não, obrigado. Chame Daniel pra mim, por favor. Quarto 11. Diga que é da escola, ele vai saber.”

“Certo.”

Nem 5 minutos depois, Daniel aparecia com a bolsa de viagem.

“Oi, professor.”

“Olá, Daniel. Sinto muito por Rubens, a escola manda seus pêsames.”

“Tudo bem. Pobre Rubens...” - na verdade a vontade de Daniel era de dizer: “Dane-se o Rubens, teve o dele!”

“Já está acertado, rapaz?” - F. se dirigiu ao atendente.

“Sim, senhor, já está pago.”

“Obrigado. Vamos, Daniel.”

Só depois de o carro rodar por uns 20 minutos, 014 ousou perguntar:

“Pra onde vamos, F.?”

“Sabe o cartão de memória que você me deu?”

“Hum...”

“Vamos para o estúdio fotográfico da Abin revelar e averiguar o material.”

“F.”

“Fala.”

“Você nunca me disse que Ernesto tinha relação com os caras!”

“Quê??”

“Surpreso?”

“Como você...”

“As fotos.” - 014 interrompeu - “Você vai ver nas fotos.”

“Estava no computador?”

“Estava.”

O resto do trajeto foi feito em 10 minutos de silêncio constrangedor.

Já com as fotos reveladas e ampliadas, F. chamou Daniel à parte:

“014.”

“Todo ouvidos.”

“Ernesto se envolveu por acaso com os caras em uma reunião do clube militar.” - despejou.

“Como é que é?”

“Vou contar a história até aonde temos conhecimento.”

“Serve.”

“Na última vez que seu avô foi ao clube militar, encontrou um velho amigo, que agora está na Abin. Esse amigo contou para Ernesto que estava sendo caçado pelos caras, que traficavam drogas e armamentos. O agente amigo do seu avô estava na pista deles desde o ano passado, na Colômbia, mas eles acabaram por desconfiar de que estavam sendo investigados e descobriram esse agente, que foi à Foz do Iguaçu para se comunicar diretamente conosco. Encontrando o velho camarada Ernesto, o agente não resistiu e contou tudo. Ernesto, fiel aos amigos e as tradições de soldado, prometeu ajudar, ao que seu amigo consentiu. Saiu do clube imediatamente com destino a Angra. Essa foi a última notícia que tivemos.”

“E aonde posso encontrar esse agente amigo do meu avô?”

“No semitério de Foz.”

“Morto?”

“Encontrado morto perto da barragem de Itaipú, com balas por todo o lado.”

Daniel ficou em silêncio. Na verdade já sabia qual seria o próximo passo.

“Vamos, 014.”

“Aonde?”

“Apuraram pelas fotos mais ou menos a localidade do lugar onde seu avô está supostamente confinado.”

“Supostamente?”

“Não vou mentir pra você; 80% de chance de Ernesto ser encontrado sem vida.”

“Ou não ser encontrado...”

“Também.”

“E aonde é o lugar descoberto?”

“É por aqui mesmo, perto de Maringá.”

“Rural?”

“Ao extremo. Só há um jeito de aguém entrar ali.”

“E qual é?”

“A cavalo.”

“A cavalo?”

“É um clube hípico clandestino. Imagino que para eles terem maior controle sobre as 'visitas'.”

“Estou nessa.”

“Você parte hoje mesmo, ao anoitecer. A primeira etapa será feita de carro. Apartir do ponto em que cruzarmos o limite imaginário do sítio, você prosseguirá sozinho. E não esqueça: você está lá para consumir drogas e transportar armas de pequeno porte. É para isso que você vai se apresentar com uma quantia razoável de dinheiro, que vai servir (espero) de garantia que não vai fugir.”

“Caução?”

“Mais ou menos isso.”

“Al rigth!”

“Agora você descansa, que a próxima etapa vai ser a ferro quente.”

“E a Abin me usa como atiçador...”


Daniel Mattos – Capítulo 7 – Uma corrida contra o maldito ponteiro:


No outro dia a cidade inteira comentava o assassinato do hotel King Palace. A polícia estava no hotel fazendo perguntas e Daniel achou melhor continuar representando; fez o papel do aluno de natação que perdera o professor.

014 tinha um pensamento fixo: o laptop. Assim que a polícia saiu do Palace, ele saiu também.

Andando na direção contrária à tomada pela viatura e procurando evitar a imprensa, Daniel andou 3 quarteirões, parando no primeiro telefone público. Precisava se comunicar com o pessoal. Discou para o Quartel do Exército de foz, usando antes um código de seis dígitos.

“Q.G. Foz, pois não?” - atenderam.

“014 na linha. Emergência com o setor de F.”

“014, se identifique.”

“D. M., nº completo 0141993/01.”

“Um instante.”

“Olá, 014.”

“F?”

“Em pessoa. Achei que uma comunicação sua valeria a pena.”

“Olha, perdi o meu contato, ele era dos caras. Mataram-no ontem à noite.”

“O Rubens? Já soubemos do assassinato. Vamos tomar providências.”

“Não posso explicar agora, mas eu preciso do laptop dele. Eu acho que está com o cara do hotel.”

“Como pretende conseguir?”

“Vou voltar pro hotel daqui a 5 minutos. Tudo o que terão de fazer é ligar para lá, pedir para falar com Carlos, do nº 12, e enrolar o cara.”

“Que confiança! Vou ver o que podemos fazer. Boa sorte, e não deixe eles te pegarem.”

“Tranquilo. Bye, F.”

014 saiu do telefone, mas não voltou em seguida. Podia estar sendo observado. Entrou na sorveteria em frente e pediu um duplo de morango. Dissera 5 minutos, dava pra ir tomando o sorvete devagar enquanto andava.

Entrando na recepção ouviu a moça que estava atendendo o telefone dizer:

“Vou passar a ligação para o quarto do Carlos, um minuto...não...não posso fazer ele vir à recepão para atender, moço...vou passar para o quarto dele.”

“Bolas!” - 014 resmungava - “Não lembrei dos telefones dos quartos. Droga!”

A recepcionista já estava passando a ligação, 014 não teria muito tempo, não sabia até quando o pessoal passaria o homem na conversa. Olhou para o relógio do pulso: “Uma corrida contra esse maldito ponteiro.”

014 foi até seu quarto correndo, e pegou a câmera digital que a Abin tinha dado à ele: do tamanho de um cartão telefônico, e espessura de uma polegada. Também não se esqueceu do ioiô: brinquedo fútil para ele, sem nada especial, como nos filmes e livros de ficção (esse não foi a Abin quem deu, ele mesmo comprou), mas que poderia ter serventia. Ainda levou o soco-inglês que a Abin forneceu (esperava nem usar).

Não tinha plano específico para invadir o apartamento do cara, ia pensar quando a hora chegasse.

Adrenalina a 300 por hora, uma super-pressão arterial – para essa hora não tinha treinamento que resolvesse, tinha que ser a experiência. 014 tinha até receio do cara escutar as batidas do seu coração.

Chegou em frente à porta, parou. Olhou para os dois lados do corredor e colou o ouvido à porta: tudo calmo, lembrava o apartamento do Rubens depois que arrombara a porta.

Com receio, desceu para a recepção:

“Olá!” - puxou conversa com a recepcionaista.

“Oi.”

“O Carlos saiu?”

“Saiu. Agora pouco ligaram pra falar com ele.”

“Viu se ele estava com alguma mala?”

“Não, ele não levava nada.”

“Valeu.” - Daniel deu uma gorjeta pra moça esquecer a conversa e subiu de novo.

Dessa vez foi ao seu quarto pegar uma chave-mestra.

Parou na frente do nº 12, conferiu o corredor e girou a chave. Com cuidado, a porta se destravou. Sentindo a sensação de que tinha um bumbo no peito, abriu a porta com um lenço na mão, para não deixar as impressões digitais. A primeira vista, o apartamento era idêntico ao seu, mas olhando bem, 014 distinguia pequenos detalhes sutis que faziam uma grande diferença. Conferiu que o telefone estava na saleta perto da porta, o que era bom. Indo para o quarto o telefone tocou. Bom sinal, a Abin estava agindo. Viu o laptop em cima da cama, podia ser que o cara não tinha dado muita importância, o que era bom.

Abriu o laptop ainda com o lenço na mão. Agora fazia diferença o treinamento da Abin.

Como um Hacker experimentado, descodificou o computador em um instante. Agora vinha o mais demorado: procurar sem saber o que estava procurando.

Digita aqui, pesquisa alí, fuça acolá, 014 viu um nome que o fez paralisar por completo: Ernesto Mattos!

Nessa hora a porta do corredor abriu. 014 sentiu um gelo na espinha.

A maçaneta da porta do quarto começou a girar. Um soco-inglês apareceu em um piscar de olhos na mão direita de 014, enquanto a esquerda se preparava para girar o ioiô.

“Triiiimm” - o telefone. A maçaneta voltou ao lugar.

“Alô?”

Um suspiro de alívio saiu involuntariamente de Daniel. Agora era uma tremenda corrida.

Pegou a máquina sem largar o soco-inglês e começou a fotografar os documentos de textos que apareciam a medida que o computador pesquisava as palavras “Ernesto”, “Mattos”, “Rubens”, e “armas”.

Já tinha tirado em média 40 fotos e fechado o laptop quando o “clique” do telefone apavorou de novo 014.

Deixou o laptop do jeito que encontrou e passou a perna pelo parapeito da janela. A janela dava para a rua que cruzava a avenida Paraná. 014 torceu para que ninguém olhasse para cima e se pendurou pelas mãos na saliência abaixo da janela. Era só um andar, mas uma queda razoável, se não conseguisse alcançar a árvore da rua.

“Droga!” - ouviu Carlos praguejando no quarto - “Engano, é? Depois de todo esse tempo falando comigo, descobre que era com outro Carlos!”

014 sorriu para si mesmo. Balançou um pouco tomando impulso e se atirou em direção à árvore.

“Seja o que Deus quiser.”

Alcançou a árvore por um triz e escorregou pelo tronco até a calçada.

Andou devagar até a entrada do hotel. Antes de entrar, retirou o cartão de memória da máquina e colocou na calça jeans adaptada com bolso interior disfarçado pelo acabamento.

Mais tarde, depositou o cartão de memória no correio com endereço específico que a Abin fornecera para isso. Depois foi direto para o hotel tomar uma ducha fria

“Alea Jacta Est!” - murmurou.



Daniel mattos – capítulo 6 – Assassinato no hotel:

014 se virava na cama do hotel; não conseguia dormir depois daquele confronto com Rubens. Ele tinha tentado explicar a situação ao Rubens, mas ele não deu ouvido. Por pouco Daniel não sofrera uma agressão. Tinha escapado por um triz de levar uma boa surra.

Súbito, um grito cortante penetrou o silêncio da noite no hotel; um “ahh” de deixar até os ossos paralizados.

014 tinha recebido treinamento para essa situação. Levantou-se e do jeito que estava, saiu para o corredor. Descalço e de roupa de cama, chamaria a atenção se alguém o visse. Mas o corredor estava vazio, aparentemente ninguém tinha ouvido o grito agonizante. Correu pisando macio até a porta de Rubens. Colou o ouvido na porta; nada, tudo no mais absoluto silêncio. “Silêncio de morte!” - 014 pensou - “Brrr!”

Tomou distância da porta e chocou-se contra ela: “Blum!” - a porta cedeu com o encontrão.

014 olhou ao redor: tudo calmo. Entrou. Tateando a parede mais ou menos na mesma direção de seu quarto, encontrou o interuptor. Apertou: nada. “Sem luz.” - o coração batia forte.

Aos poucos foi se acostumando com a penumbra. Notou uma cadeira caída, devia estar encostada à porta. Perto da cadeira, um tripé que servia de porta-revistas. Daniel pegou-o; não sabia o que iria encontrar. Usando o tripé como arma de defesa, foi andando até a cama, tropeçando em um monte de móveis caídos. Estranhou, o apartamento lhe paracera bem menos mobiliado.

Girou o olhar em redor e ficou estático quando olhou para o leito: inconfundível, a silhueta do que fora Rubens se destacava do lençol branco, que dava uma visão fantasmagórica. Tomou o pulso só para constatar: morto. Lutando para sair do topor que a visão da morte tão perto havia causado, raciocinou: “Os móveis tombados e tudo revirado significa que os caras queriam alguma coisa, e pode ser que encontraram, mas se não encontraram, vão voltar, preciso ser mais rápido. O que será que motivou a morte dele? Será que souberam da conversa comigo? Carlos me viu entrando no apartamento hoje... O laptop. Cadê o laptop? Preciso dele. Rubens tentou escondê-lo de mim. Tem alguma coisa alí que eu preciso saber.”

Mas por mais que procurasse, não encontrava o abençoado objeto. Olhou até debaixo do colchão; nada. Só aí é que percebeu: o que os caras procuravam era o laptop. “E conseguiram!” - 014 estava nervoso consigo mesmo - “Mas não me conhecem. Nem eu me conheço direito. Agora é tudo ou nada. Como Rubens disse, estou aonde não há volta. E não quero voltar!”

Daniel Mattos – Capítulo 5 – O ponto de onde não há volta

014 abriu porta do quarto e desceu para o restaurante. Lá estava o seu homem. O sujeito estava comprando refrigerante. “Hora de mostrar serviço” Daniel pensou.

Andando normalmente, 014 tirou uma moeda do bolso do jeans, se aproximou da máquina de refrigerante onde o sujeito estava comprando o seu. Chegou bem perto do homem e deixou cair a moeda perto do pé do cara. Abaixou-se para pegar e, quando se levantou, esbarrou-se de propósito no homem, fazendo-o cambalear:

“Desculpe, moço.”

“Hunf...” - o sujeito resmungou.

O homem se abaixou para pegar a chave que tinha caído da sua mão. Era o que 014 esperava. Abaixou-se rapidamente e antes pegou a chave do cara. Antes de entregá-la, ainda consegiu observar: “Apto. 12”.

Pediu desculpas mais uma vez e andou apressadamente para o corredor. Assim que se viu sozinho, correu para o quarto do Rubens. Deu três batidas rápidas e uma espaçada. Rubens abriu:

“O que manda?”

“O cara está com o quarto ao lado do meu.”

“Como você sabe?”

“Ué! O meu é o 11, e o dele o 12.”

“Como você descobriu? Não andou fazendo perguntas, né?”

“Sossegue. Bem, era só isso. Bye.”

Deixando Rubens com uma cara de quem comeu e não gostou, Daniel saiu para a recepção, com um belo de um sorriso.

“Por favor...” - 014 chamou o rapaz da recepção - “O quarto 12 não está vazio? É que o meu professor queria um perto do meu. Preocupado com a competição, sabe como é...”

“Sinto muito, garoto, mas acabei de locar esse quarto.”

“Quem pegou não estaria interessado em trocar com o Rubens? Quem é? Talvez se eu falasse com ele...”

“Não sei não. É Carlos o nome do homem. Mas duvido que você consiga alguma coisa.”

“Vou tentar. Valeu.”

Deixando uma pequena gorjeta com o balconista, Daniel seguiu para seu quarto.

Pegou uma bolsa, colocou nela uma toalha, óculos e touca de natação e seguiu para o quarto do Rubens. Já estava quase na porta quando ela se abriu e o cara saiu. Um alerta tocou no cérebro de Daniel, que achou que o melhor a fazer seria continuar. Entrou pela porta antes do cara fechar, e fechou-a por dentro. Rubens não estava na saleta da recepção. 014 largou a bolsa no sofá ao lado da porta e entrou para o quarto.

“Qual é o galho?” - já entrou bronqueando com Rubens, que estava digitando em um laptop na cama.

“Eu é que pergunto. Descobriu alguma coisa?” - disse já fechando o computador.

“Relatório?”

“Ah, não, não.”

“É. Porque se fosse iria colocar que estava conversando com o Carlos, agente Rubens?”

“Já sabe o nome do cara?”

“Ciúmes?”

“Pô, 014.”

“Por falar em 014, posso saber qual é o seu número, agente?”

“0...023...Por quê?”

“O número completo, agente!”

“Que é isso, Daniel?” - Rubens se levantou.

014 deu um passo atràs e assumiu a posição de Kung-Fu.

“Calma! Vamos conversar...”

014 olhava nos olhos de Rubens. Não falou nada.

“O quê exatamente você quer saber, Daniel?”

“Me passe o laptop!”

“Para?”

“O laptop, Rubens!”

“Olhe aqui, 014, eu sou mais velho e tenho mais tempo de serviço que você...”

“Só que não é na Abin.”

“Daniel...”

“Não precisa ameaçar, eu sei os riscos que corro...e os que você corre!”

“O que quer dizer?”

“Ora, eles não perdoam fracassos, não é mesmo?”

Rubens lançou o laptop com força na cama e se atirou em Daniel.

“Calma, Rubens.” - Daniel se desviou do golpe - “Você ainda pode ajudar e eu não falo nada pra eles.”

“Você, garoto! Você chegou em um ponto de onde não há volta!”


Daniel Mattos – Capítulo 4 – O homem do King

“Bem-vindo à Maringá”, dizia a placa de boas vindas. 014 imaginava que se poderia acrescentar na placa: “paraíso da máfia”, se levasse em consideração as informações que F. lhe dera sobre o submundo maringaense. Segundo F., os caras em Maringá agiam melhor, mas a encoberto.

A única denominação que 014 poderia usar para se referir às pessoas que agiam assim era chamá-los de caras, como F. tinha deixado bem claro.

O ônibus entrava na rodoviária, rodando lentamente. Daniel sentia agora mais do que nunca o batimento cardíaco na boca. Olhava para a plataforma de desembarque em uma mistura de curiosidade e receio, embora sem saber do que recear. Seria tudo tranquilo como F. e o pessoal assegurava? Os caras realmente nunca imaginariam que um garoto estava na pista deles. Poderiam sim, pensar que a Abin já estava por dentro, mas não que mandariam um garoto.

A porta do ônibus abriu e as pessoas começaram a descer. Daniel desceu no meio do bolo. Assim que pisou na plataforma avistou um homem alto, usando terno cinza-escuro, com um lenço azul na mão. Era o sinal combinado. 014 dirigiu-se à ele:

“Olá.”

“Oi.” - o sujeito respondeu secamente.

“014. Como vai?” - Daniel se apresentou. A atitude do homem mudou na hora:

“Ah! Tudo bem, 014? Me disseram que era um garoto, mas eu não poderia adivinhar como era.”

“Tudo bem. Como eu devo chamá-lo?”

“Olhe, pelo número não fica bem nem eu chamar você, mas pelo próprio nome também...”

“Entendi. Como são os nomes?”

“O seu é Daniel. Daniel Mattos.”

“Mas disse...”

“É, não sei seu nome real, mas pra mim disseram que era pra te chamar de Daniel Mattos.”

Daniel entendeu o estratagema; disseram seu nome verdadeiro para o agente, mas o homem não sabia que era o verdadeiro. Era de fato uma boa estratégia, já que eles suporiam que ele não usaria seu verdadeiro nome.

“E você?”

“Sou Rubens. Rubens só. A propósito, como você veio pra cá para participar de um campeonato de natação, sou o responsável por você aqui e seu treinador. Correto?”

“Perfeito.”

“Vai gostar de Maringá, Daniel, apesar de não estar fazendo turismo.”

“Sei. E o hotel?”

“Ah, sim. Vamos lá”

Saíram para o pátio externo da rodoviária.

“Táxi?”

“Seria o mais natural pra quem está aqui só de passagem por algumas semanas.”

Rubens fez sinal para um táxi estacionado perto, e o veículo se aproximou:

“Hotel King Palace, na Avenida Paraná.” - Rubens deu o enderço.

Durante o trajeto não falaram nada que não fossem os comentários usuais de quem vem de outra cidade, como a arborização, o clima variado da cidade, etc.

O táxi estacionou diante de um edifício de dois andares, mas grandes proporções térreas, aonde se lia na fachada externa: “King Palace Hotel”. Logo de cara já se notava que era um cinco estrelas, pelo luxo ostensivo até no exterior.

Desceram. Rubens pagou ao motorista, e eles se dirigiram para a recepção:

“Dois quartos com vista para a avenida.”

“Lamento, senhor, mas só temos um disponível nessa situação.”

“Tudo bem.” - Daniel se precipitou - “Eu fico com outro, professor.” - Disse se dirigindo à Rubens.

“Está certo, campeão.” - Rubens sorriu.

Já no corredor com as chaves, Rubens alertou:

“Eles preferiam que você ficasse com vista para a avenida, por questões estratégicas.”

“Tudo bem, se você quiser, nós trocamos.”

Feita a troca das chaves, cada um foi explorar seu quarto.

Logo à entrada Daniel se impressionou; as proporções eram enormes para só uma cama de solteiro. Notou que a suíte tinha banheira e que o frigobar ficava colocado junto à entrada, aonde tinha uma sala pequena, como uma recepção, mas bem mais cofortável. Foi até a janela e observou a calçada: um Punto vermelho estacionou nesse momento e um homem vestido esporte, mas com elegância, saiu do veículo e se dirigiu ao hotel. Devia ter em torno de uns vinte anos, compleição física avantajada, daria a impressão de um executivo, se não fosse sua pouca idade.

Três batidas breves e uma espaçada na porta. Era Rubens. Daniel foi abrir:

“Então?”

“Olhe pela janela.”

“Que é que tem? Acabei de fazer isso.”

“E viu um Punto vermelho?”

“Vi.”

“E quem saiu dele?”

“Sim. Por quê?”

“É o seu homem.”

“O.K., vou ficar de olho.”

Continua...