Daniel Mattos – Capítulo 8 – Ernesto:

Um Vectra preto estacionou diante do hotel King Palace. F. em pessoa saiu do lado do carona e se dirigiu à recepção do hotel.

“Bom dia.”

“Bom dia.” - o recepcionista retribuiu - “Deseja quartos?”

“Não, obrigado. Chame Daniel pra mim, por favor. Quarto 11. Diga que é da escola, ele vai saber.”

“Certo.”

Nem 5 minutos depois, Daniel aparecia com a bolsa de viagem.

“Oi, professor.”

“Olá, Daniel. Sinto muito por Rubens, a escola manda seus pêsames.”

“Tudo bem. Pobre Rubens...” - na verdade a vontade de Daniel era de dizer: “Dane-se o Rubens, teve o dele!”

“Já está acertado, rapaz?” - F. se dirigiu ao atendente.

“Sim, senhor, já está pago.”

“Obrigado. Vamos, Daniel.”

Só depois de o carro rodar por uns 20 minutos, 014 ousou perguntar:

“Pra onde vamos, F.?”

“Sabe o cartão de memória que você me deu?”

“Hum...”

“Vamos para o estúdio fotográfico da Abin revelar e averiguar o material.”

“F.”

“Fala.”

“Você nunca me disse que Ernesto tinha relação com os caras!”

“Quê??”

“Surpreso?”

“Como você...”

“As fotos.” - 014 interrompeu - “Você vai ver nas fotos.”

“Estava no computador?”

“Estava.”

O resto do trajeto foi feito em 10 minutos de silêncio constrangedor.

Já com as fotos reveladas e ampliadas, F. chamou Daniel à parte:

“014.”

“Todo ouvidos.”

“Ernesto se envolveu por acaso com os caras em uma reunião do clube militar.” - despejou.

“Como é que é?”

“Vou contar a história até aonde temos conhecimento.”

“Serve.”

“Na última vez que seu avô foi ao clube militar, encontrou um velho amigo, que agora está na Abin. Esse amigo contou para Ernesto que estava sendo caçado pelos caras, que traficavam drogas e armamentos. O agente amigo do seu avô estava na pista deles desde o ano passado, na Colômbia, mas eles acabaram por desconfiar de que estavam sendo investigados e descobriram esse agente, que foi à Foz do Iguaçu para se comunicar diretamente conosco. Encontrando o velho camarada Ernesto, o agente não resistiu e contou tudo. Ernesto, fiel aos amigos e as tradições de soldado, prometeu ajudar, ao que seu amigo consentiu. Saiu do clube imediatamente com destino a Angra. Essa foi a última notícia que tivemos.”

“E aonde posso encontrar esse agente amigo do meu avô?”

“No semitério de Foz.”

“Morto?”

“Encontrado morto perto da barragem de Itaipú, com balas por todo o lado.”

Daniel ficou em silêncio. Na verdade já sabia qual seria o próximo passo.

“Vamos, 014.”

“Aonde?”

“Apuraram pelas fotos mais ou menos a localidade do lugar onde seu avô está supostamente confinado.”

“Supostamente?”

“Não vou mentir pra você; 80% de chance de Ernesto ser encontrado sem vida.”

“Ou não ser encontrado...”

“Também.”

“E aonde é o lugar descoberto?”

“É por aqui mesmo, perto de Maringá.”

“Rural?”

“Ao extremo. Só há um jeito de aguém entrar ali.”

“E qual é?”

“A cavalo.”

“A cavalo?”

“É um clube hípico clandestino. Imagino que para eles terem maior controle sobre as 'visitas'.”

“Estou nessa.”

“Você parte hoje mesmo, ao anoitecer. A primeira etapa será feita de carro. Apartir do ponto em que cruzarmos o limite imaginário do sítio, você prosseguirá sozinho. E não esqueça: você está lá para consumir drogas e transportar armas de pequeno porte. É para isso que você vai se apresentar com uma quantia razoável de dinheiro, que vai servir (espero) de garantia que não vai fugir.”

“Caução?”

“Mais ou menos isso.”

“Al rigth!”

“Agora você descansa, que a próxima etapa vai ser a ferro quente.”

“E a Abin me usa como atiçador...”