Daniel Mattos Capítulo 11 – Informação precisa.

Dobrando o corredor principal, 014 chegou pé ante pé até a sala em que estivera conversando com o comandante.

Na sala, só um abajur espalhava sua pálida e fantasmagórica luz. Iluminado pela claridade, um homem sentado em um sofá olhava a porta.

014 deitou-se no chão e, se arrastando apoiado nos ante-braços, se aproximou do sofá por trás, onde tinha uma janela aberta. Com cuidado, sentou no chão atrás do sofá e, devagar se levantou. O homem continuava de olhos fixos na porta à sua frente. Passou uma perna após a outra pelo parapeito da janela e se deixou escorregar para o outro lado, sem se fazer notar.

Já do lado de fora da casa, 014 deu um olhda ao redor: as árvores estavam espalhadas, não davam um bom esconderijo. Ao longe se via as luzes do barracão onde os peões festavam até alta madrugada.

Se movimentou furtivamente até as árvores mais próximas e perscrutou em volta e, como estava tudo na santa paz, seguiu direto para as luzes do barracão.

Chegando perto do barracão já se ouvia o “rap” em seu interior. Encostou na parede do fundos da construção e deu mais uma boa olhada em volta: dalí se avistava o estábulo onde Dark Storm estava. Construiu um mapa na cabeça; se precisasse fugir teria que ir até o estábulo.

Ajeitou a jaqueta negra, passou as mãos pelo cabelo despentedo e seguiu para a janela mais próxima. Era um ponto privilegiado: dalí se avistava toda a área da constução. Seguiu com o olhar as mesas aonde eram servidas garrafas de cerveja enquanto os peões comentavam o seu dia.

Rodeou o barracão e discretamente entrou pela porta da frente. Ninguém prestava atenção nele, cada um cuidava de sí.

Tinha aversão por cerveja, mas pegou uma lata de cima do balcão e abriu, serviria para melhorar o disfarce.

A princípio apenas circulou pelas mesas, tentando captar alguma coisa, mas, parou quando ouviu uma frase que o deixou interessado:

“Eles virão amanhã, Nivaldo.” - dizia um peão.

“Bom, aí a nós vamos poder tirar nossas merecidas férias.”

De posse da informação, 014 saiu discretamente do barracão reciocinando: “Um grupo novo de peões, hem? Ótimo pra mim. Uma oportunidade e tanto.”



Daniel Mattos – Capítulo 10 – A fazenda:

18:40, Daniel seguia com Dark Storm reto para o topo do morro, que tinha vegetação serrada.

Apreensivo, 014 fazia o animal andar a passo, sempre atento com as laterais e o mato em frente. Segundo o que tinha estudado, à entrada da mata estaria o primeiro vigia, ao qual deveria passar a senha.

Agora a mata começava, já bem cerrada. Redobrou a atenção.

“Alto!” - uma voz em tom forte e decisivo chamou a atenção de 014. Parou o cavalo.

“Vire-se devagar.” - Daniel obedeceu.

“Que faz aqui?”

“Tenho permissão, venho de Verssalhes.” - era a senha.

“Tranquilo garoto. Novo no negócio?”

“É.”

“Venha, o comandante vai querer conhecer você.”

014 seguiu o homem pela direção que ele apontou.

Andaram reto até uma triha da mata, bem disfarçada pela vegetação. Ali, o homem deu um assovio curto e forte. Um cavalo negro não demorou a aparecer.

“Não é tão forte quanto o seu, mas dá pro gasto.” - o sujeito comentou.

Cavalgaram por um tempo seguindo sempre na trilha estreita mas bem batida que cortava a mata de fora-a-fora.

Depois de aproximadamente 20 minutos de marcha, a trilha se alargou e cedeu lugar a uma clareira bem no topo do morro. Daquele lugar se tinha uma vista espetacular: a floresta descia a encosta do outro lado e via-se a entrada de uma fazenda.

“Está vendo aquela porteira?”

“Hum, hum.”

“É lá que começa oficialmente o limite da fazenda. Apartir daquele ponto você vai seguir com o capataz. O nome do cara é Junior, e não é muito chegado em papo. Tipo caladão, mas eficiente.”

“Vocês tem um exército operando aqui!”

“E você ainda não viu nada. Tem uns vinte peões prá lá dos limites da fazenda. De peão é só nome. Os caras sabem até artes marciais. O comandante tem mais um exército particular de 10 caras com armas de fogo.”

Percebendo que se aproximavam da porteira descrevida pelo cara, 014 deu corda pra ver se conseguia mais alguma coisa do homem:

“Escuta, vocês não tem medo de fiscalização não?”

“Que é isso? O comandante dá o toque de alerta com o sino da casa grande quando essa escória vem pra cá e os peões ficam de sobreaviso. Ninguém se mostra.”

“Mas a fazenda não é pequena?”

“Aí é que está o negócio. A fazenda é pequena aqui, mas lá pelas bandas de Cianorte o comandante tem uma enorme, com 'laranja'.”

“Vocês só conhecem o comandante por esse nome?”

“Só. Ele usou um nome falso para contrato. Bem, vou ter que voltar para a sentinela. Boa sorte garoto.”

“Por quê?”

“Você vai precisar para o comandante não fazer você comprar o estoque todo dele. Rá rá rá rá!”

“Tá... falou.”

“Falou.”

“Estoque, hem?” - Daniel resmungou baixinho.

Tocou o cavalo em frente na direção da porteira, onde um homem já sinalizava para ele.

Foi recebido por ele e levado até a chamada “casa grande”.

Uma construção extensa, de material e com estilo das casas típicas de fazenda, com um alpendre grande de madeira rodeando a casa toda. Amarelo fosco, as paredes não refletiam a luminosidade, sendo bem discreta.

“Pode entrar que vão te receber.” - o sujeito falou num moxuxo e se retirou.

Por dentro, a casa tinha o mesmo aspécto sóbrio e discreto, tudo bem asseado. Assim que entrou, Daniel obsevou um homem de meia-idade que olhava para ele, sentado na mesa de madeira redonda, colocada no centro da sala. Se dirigiu a ele:

“Oi.”

“Fala, 'fera', você é o Daniel?”

“Eu mesmo.”

“Senta aí, não mordo quando tô sem fome. Rá rá rá!”

014 deu um sorriso meio sem graça e se sentou na frente do sugeito, que tinha um aspécto de cobra, e ainda falava meio chiado.

As “negociações” se estenderam até altas horas da noite, com o cara só falando do “material”.

Depois de 23:30 mais ou menos, o cara liberou Daniel para dormir. Ele iria dormir na casa grande mesmo.

Daniel foi conduzido por uma sequência de corredores até ao quarto que iria ocupar, que ficava na parte dos fundos da construção.

“Aqui hóspedes não ficam acordados depois da meia-noite, colega.” - alertou o “peão” que tinha acompanhado Daniel até o quarto.

Assim que o homem fechou a porta, um discreto e quase imperceptível “clik” fez-se ouvir.

014 se jogou na cama, imaginando o próximo passo.

Abriu a mochila e, como imaginava, ela tinha sido revirada, mas como ele estava “limpo”, como os agentes diziam, nada de mais em dar uma olhadela.

Mas alguns truques sempre prevalecem. Sorrindo retirou o pequeno chaveiro metálico do zíper. Era um chaveiro normal, uma miniatura em escala de uma baioneta. O que os caras não podiam imaginar era que a baioneta tinha fio de verdade.

Foi até a suíte do quarto e lavou o rosto. Não estava com sono mas era bom prevenir. Pegou o aparelho Gillette que estava no armário, retirou as lâminas e as encaixou ao redor do mostrador do relógio de pulso. Depois escorregou o relógio para os dedos e fechou a mão; um sôco-inglês improvisado mas eficiente.

Voltou ao quarto, abriu a mochila e retirou a grana toda. Depois remexeu na cama, ajeitou a mochila no travesseiro e puxou os lençóis; não estava perfeito, mas com a luz apagada dava uma boa enganada.

Conferiu em todo o quarto: sem câmeras e, ao que parecia, sem escuta.

014 estava pronto. Apertou os cordões dos tênis, ajeitou o relógio no pulso, pôs a baioneta no bôlso, soltou uma longa respiração e foi até a janela.

Experimentou o vidro; aberto. Levantou-o e conferiu o folhão; fechado. E ainda com grades por tráz. Por alí não dava, teria que se arriscar pela porta. Foi até ela, e rodou a maçaneta só para tirar da duvida; trancada. Colou o ouvido na madeira; nada. Encaixou o chaveiro na fechadura, que por sorte era daquela antiquadas sem tambor e girou: “tlec!” e só; abriu.

014 esperou um tempo por precaução e abriu a porta devagar. O corredou estava um breu. Passou para ele e tornou a trancar a porta. Como não tinha o que explicar se alguém o surpreendesse, 014 deixou o relógio-soco-inglês na posição de usá-lo.