Daniel Mattos – Capítulo 9 – Tempestade Negra

6 horas da tarde. Um Porche Cayene preto arrancava na avenida Colombo em direção oeste. Dentro estavam 3 ocupantes: o motorista, Samuel, 045 na Abin e treinado em artes marciais e tiro ao alvo (especialmente em movimento); o próprio F., que decidira acompanhar a empresa e Daniel, 014, o principal personagem da trama toda. Fora do Cayene, ia a reboque uma carreta de animais, com um puro-sangue negro, a quem 014 chamou “Dark Storm”, ou “Tempestade Negra”.

Além da velocidade permitida, o Porche ia em direção a Cianorte.

10 minutos já se passaram e o carro engole a pista, sempre em frente.

“Cianorte?” - 014 perguntou não se dirigindo a nenhum dos dois em específico.

“Conhece o caminho?” - F. respondeu com outra pergunta.

“Dá pra chegar antes das 7. O carro rende bem.” - 045 entrou na converssa.

Depois, silêncio.

A estrada passava em borrão pela janela do Cayene; uma mancha disforme era o asfalto. A esquerda as elevações do campo, com grupos de árvores esparsos dava um cenário cinematográfico.

Por um bom período Daniel se desligou da operação. As planícies da direita lembravam a ele um pouco de Foz.

Escurecia. Eram aproximadamente 6:30 quando o Cayene encostou bruscamente a direita. Naquele ponto da estrada os cenários invertiam, com as planícies à esquerda e morros até consideráveis à direita. Foi perto de um desses moros cobertos de vegetação que o Porche parou.

014 sabia ter chego a sua hora. Engoliu a saliva e olhou para tráz. Na carreta, Dark Storm relinchou. Parecia encorajá-lo. Olhou para F.: a mesma cara de encorajamento e sensação de piedade. Olhou para o motorista:

“Em frente, rapaz!”

Desceu. F. e Samuel foram abrir a carreta.

“Gente.” - 014 sentia um icebeg na espinha.

“Hum?” - F. tinha uma expressão sinistra no rosto.

“Eu só sei o básico de equitação. Como vou dominar esse monstro?”

“Não esquenta, 014, Tempestade Negra é treinado pela Abin. Só o jeitão é de selvagem.”

“Recapitulando...”

“Olha, você devia ter estudado o seu papel. Agora é tocar pra frente que você tem que estar na fazenda até 7 horas.”

“Tá...”

Daniel montou no cavalo com a sensação de estar montado em uma tempestade real. Puxou as rédeas: o animal atendeu na hora. Sim, Dark Storm era treinado. Colocou a mochila preta nas costas. Com a jaqueta escura e calça jeans de um azul das profundezas abissais, estava bem pouco visível para olhos humanos.

Aprumou-se na sela; os cabelos negros levantavam um pouco com a brisa noturna, entrando em harmonia com a crina do belo animal. Os ombros largos sustentavam uma cabeça decidida, que tinha o olhar em frente. Deu um leve puxão na rédea, e Dark Storm começou a marchar.

“Daniel!” - 014 sofreou o cavalo bruscamente; era a primeira vez que F o chamava pelo nome. Olhou para ele.

“Você ainda pode voltar.”

“Não quero voltar.”

“Pode ser a última vez que o vemos, como a seu avô.”

“Então tá. Adeus pela última vez, F.”

“Confiante?”

“O bastante. Adeus!” - e ao seu comando, Dark Storm galopou em direção à leve colina a beira da estrada.

Do sopé da colina olhou para trás: um Cayene preto virava e arrancava silenciosamente em direção à Maringá. Melancolia. Essa palavra descrevia tudo.